Produções lácteas do Paraná conquistaram, em recente competição internacional na França, sete medalhas que atestam a qualidade e o aprimoramento crescente do setor queijeiro no estado. Foram dois ouros, três pratas e duas bronzes, num cenário de alta competitividade, marcado por quase duas mil inscrições de queijos provenientes de mais de duas dezenas de países — entre eles, cerca de trezentas produções brasileiras.
Destaques e variedade de sabores
Dentre os premiados, chamam atenção os produtos do Biopark, de Toledo, que liderou o desempenho paranaense com quatro das medalhas. Seus queijos Abaporu e Passionata garantiram o ouro, sendo reconhecidos por maturações diferenciadas e perfis de sabor que agradaram jurados acostumados com referências internacionais. Outros dois premiados do Biopark — o Petit Brie Triplo Creme e o Saint Marcelin — receberam prata, confirmando consistência nos quesitos textura, aroma e complexidade de sabor.
A queijaria Vila Velha, nos Campos Gerais, brilhou com o Morbier, que também conquistou prata. Este produto contrasta pela origem da receita, de matizes clássicas europeias, e pelo cuidado na produção: uso de matérias-primas locais de alta qualidade, manejo preciso e atenção à maturação.
As medalhas de bronze foram obtidas pelo Maná Paraná, do Sítio Aliança (Norte Pioneiro), e pelo Bel Paese, da Granja Santo Expedito (Oeste). O Maná Paraná, em particular, já vinha sendo valorizado em premiações regionais e nacionais, e seu desempenho internacional reafirma seu potencial como produto artesanal de excelência.
Implicações para o agronegócio queijeiro
Esse reconhecimento externo tem impacto direto na cadeia produtiva local. Os produtores enfatizam que tais premiações se tornam vitrines globais, capazes de abrir portas de mercado além-fronteiras, atrair investidores, compradores exigentes e gerar valor agregado. Para muitas queijarias, sobretudo aquelas de porte pequeno ou médio, o investimento em qualidade se justifica não apenas pelo retorno financeiro, mas pela afirmação de identidade – de saberes locais, espécies bovinas específicas, técnicas tradicionais ou inovadoras, e traços fortes de terroir.
Além disso, as conquistas reforçam a importância de iniciativas de apoio técnico e institucional: assistência técnica, capacitação de mestres-queijeiros, certificações e programas de incentivo local são vistas como instrumentos decisivos para elevar o padrão de produção e consolidar participação em concursos internacionais.
Desafios à vista
Apesar da visibilidade e do orgulho, o setor ainda enfrenta desafios estruturais. Problemas como logística de transporte de leite fresco, condições sanitárias, acesso a materiais de maturação adequados, fluidez regulatória e adequação de certificações enfrentam grandes discrepâncias entre pequenas propriedades e centrais de produção maiores. Garantir que o leite utilizado mantenha qualidade do campo ao laticínio é uma tarefa que demanda investimento contínuo.
Outro obstáculo reside no fortalecimento do consumo interno de queijos finos. Apesar de prêmios internacionais servirem para angariar reconhecimento externo, transformar esse reconhecimento em demanda doméstica exige informação, acesso, canais de comercialização diferenciados, e disposição do público consumidor para valorizar queijos artesanais com perfis menos convencionais.
O Paraná e a ambição internacional
As medalhas conquistadas sinalizam que o Paraná não está apenas produzindo bem – está fazendo-se notar mundo afora. Produções como as do Biopark, Sítio Aliança e Granja Santo Expedito mostram que existe uma diversificação de estilos que vai além do que já se considera convencional: queijos de massa mole, casca lavada, receitas clássicas francesas adaptadas às condições locais, maturações longas, acabamento cuidadoso.
O resultado suscita expectativas positivas: salta aos olhos a possibilidade de ampliação de exportações, entrada em mercados gourmet e uma elevação da autoestima dos produtores locais. Também estimula que novas iniciativas estaduais ampliem seu suporte em pesquisa, inovação e infraestrutura para o setor, permitindo que outras queijarias alcancem esse patamar de reconhecimento.
Em suma, as medalhas obtidas na França confirmam que o Paraná está se consolidando como polo de excelência na produção láctea artesanal e fina no Brasil. A tarefa agora é manter e ampliar esse ritmo – qualificar todas as etapas, garantir sustentabilidade econômica e ambiental, e levar esses sabores reconhecidos para o paladar nacional e internacional.